Irmandade da Alheira

A comunidade da República da Alheira partilha experiências, emoções, sensações, ideias e, às vezes, alheiras. Proporcionaremos também "mesas redondas" e tertúlias virtuais.

domingo, março 4

Poema do Mar à Terra


Ondas que descansam no seu gesto nupcial
abrem-se
caem amorosamente sobre os próprios lábios
e a areia
ancas verdes violetas na violência viva
rumor do ilimite na gravidez da água
sussurros gritos minerais inércia magnífica
volúpia de agonia movimentos de amor
morte em cada onda sublevação inaugural
abre-se o corpo que ama na consciência nua
e o corpo é o instante nunca mais e sempre
ó seios e nuvens que na areia se despenham
ó vento anterior ao vento
ó cabeças espumosas
ó silêncio sobre o estrépito de amorosas explosões
ó eternidade do mar ensimesmado unânime
em amor e desamor de anónimos amplexos
múltiplo e uno nas suas baixelas cintilantes
ó mar ó presença ondulada do infinito
ó retorno incessante da paixão frigidíssima
ó violenta indolência sempre longínqua sempre ausente
ó catedral profunda que desmoronando-se permanece!

António Ramos Rosa

5 Comentários:

  • Às 5/3/07 16:21 , Blogger Su disse...

    Querida Lea,

    Os anos vão passando, mas a ti apenas te peço, neste dia especial, que mantenhas sempre essa jovialidade, boa-disposição e alegria que tantas vezes nos contagiam.

    Um beijo grande de muitos parabéns e felicidades,
    Su

     
  • Às 5/3/07 16:37 , Blogger Stéphane Pires disse...

    Olá Leandrita!

    Como estou sem bateria no telemóvel, aproveito este espaço para te desejar um feliz aniversário.
    Espero k faças uma festinha, com um bolito, para apagar e trincar a vela dos desejos - de certeza k são muitos. E grande parte deles hás-de alcançar!! Estou a torcer!

    Ps: mais logo vou fazer t chegar uma mensagem, semelhante a esta, mas por telefone.

    bjs e felicidades

     
  • Às 6/3/07 23:42 , Blogger Jaime disse...

    Retrato de uma princesa desconhecida

    Para que ela tivesse um pescoço tão fino
    Para que os seus pulsos tivessem um quebrar de caule
    Para que os seus olhos fossem tão frontais e limpos
    Para que a sua espinha fosse tão direita
    E ela usasse a cabeça tão erguida
    Com uma tão simples claridade sobre a testa
    Foram necessárias sucessivas
    gerações de escravos
    De corpo dobrado e grossas mãos pacientes
    Servindo sucessivas gerações de príncipes
    Ainda um pouco toscos e grosseiros
    Ávidos cruéis e fraudulentos

    Foi um imenso desperdiçar de gente
    Para que ela fosse aquela perfeição
    Solitária exilada sem destino

    Sophia de Mello Breyner Andresen

     
  • Às 7/3/07 06:21 , Blogger Leandra Vieira disse...

    Obrigada meus amigos pelo carinho das palavras, e pela delicadeza do gesto. É bom sentir-vos por perto :)...

    Em 1983, teria eu cerca de um ano, é publicado o livro de poesia Raiz de Orvalho, do grande escritor Mia Couto. Ao ler este poema da Sophia, de repente, recordei:


    Morte silenciosa

    A noite cedeu-nos o instinto
    para o fundo de nós
    imigrou a ave a inquietação

    Serve-nos a vida
    mas não nos chega:
    somos resina
    de um tronco golpeado
    para a luz nos abrimos
    nos lábios
    dessa incurável ferida

    Na suprema felicidade
    existe uma morte silenciada


    25 beijos, para o ano dou mais um ;) *************************

     
  • Às 7/3/07 22:58 , Blogger Jaime disse...

    Bom, com a morte a rondar devo dizer que não lhe tenho medo (para mim) temo-a nos outros... Não tenhas medo... excepto de viver.

    Beijos (sem números)

     

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